sexta-feira, julho 08, 2011

Razões que explicam o não uso do termo aprendizagem organizacional na literatura antropológica

Os antropólogos fornecem argumentos para usar os dois conceitos de forma sinônima: culturas são organizações que agem para perpetuação da vida humana e deles próprios.
A falta de atenção para a questão da organização social e mesmo para o aprendizado individual tem razões históricas específicas, que variam entre as escolas de pensamento. Os antropólogos sociais (estruturalistas) dão ênfase nas variáveis macrosistemicas, enquanto que aprendizagem é considerada uma variável “muito micro” para ser levada a sério.
A aprendizagem é um conceito que aparece principalmente na antropologia cognitiva ou psicológica. E é aplicada individualmente e não em grupos.
Os novos evolucionistas mantiveram alguns elementos do seu vocabulário, onde o equivalente mais próximo à “aprendizagem organizacional” seria provavelmente “avanço adaptável”, embora definido em termos dos resultados do que em processos.
Atualmente o tópico sobre transformação cultural tem recebido mais atenção, e o conceito de translação cultural (útil para entender o que é aprendizado organizacional) tem sido bastante usado.
Esta capacidade de poder com paradoxos surge sempre como um atributo de sucesso das elites. Um ponto de interesse adicional é de que as elites podem ter sucesso tanto impedindo mudanças como as promovendo. Em ambos os casos, a elite culta tem um papel crucial nas práticas e ações da comunidade local, induzindo aprendizagem organizacional.
Muito da aprendizagem organizacional aparece sob os auspícios do tradicionalismo e não do modernismo.
Alguém pode reclamar de que a maioria da aprendizagem organizacional objetiva proteger e revitalizar a ordem institucional existente, e não muda-la, como é o caso dos projetos de modernização ou revoluções.
É geralmente assumido de que a relação entre aprendizagem organizacional e mudanças institucionais devem ser positivas: aprendizagem permite mudanças, mudanças permitem aprendizagem. Embora esta hipótese seja verdadeira ao nível organizacional, pode ser incorreta ao nível institucional.
Mudanças culturais ou simbólicas tendem a ficar para trás mesmo que haja uma grande mudança política radical, e a “revolução cultural” parece ter destruído muitos povos e um grande número de artefatos culturais sem se importar com o sistema de significados simbólico.
O que causa mudanças na ordem institucional? Acontece como resultado de mudanças na definição de sociedade e na condição humana, e embora uma mudança planejada seja colocada em prática, ela não poderá ser controlada.
Como as idéias viajam?
Na definição de aculturação, mostra que “difusão... frequentemente acontece sem a ocorrência de qualquer contato entre as pessoas”. Na versão popular na teoria gerencial via marketing, a ênfase era ainda sobre artefatos (produtos de consumo ou tecnologias), mas o espraiamento de inovações conduz mais e mais para o aumento das idéias, até mesmo ideologias. Este processo é sem dúvida uma preocupação central em toda questão de aprendizagem organizacional.
No modelo de translação, o espraimento no tempo e espaço para qualquer coisa – reivindicações, ordens, artefatos, mercadorias – está nas mãos das pessoas; cada uma dessas pessoas podem agir em diferentes caminhos, deixando a ficha cair, ou modificando, desviando, ou traindo, ou adicionando para, apropriação.
Esta riqueza de significados, invoca associações com ambos movimentos e transformação, aceitando tanto os objetos lingüísticos e material, fazendo translação em conceito chave para entender aprendizagem organizacional.
Rituais organizacionais e cerimônias objetivam à criação do mesmo tipo de experiência total, a qual pode fazer avançar a aculturação de forma muito mais eficiente que qualquer transferência de conhecimento abstrato.

CZARNIAWSKA, Barbara. Anthropology and Organizational Learning, In: DIERKES, M. et al. Organizational learning and knowledge, Oxford: Oxford University Press, 2001. cap. 5, p. 118-136.

Nenhum comentário: