segunda-feira, setembro 26, 2022

Cadê o trabalhador que estava aqui?

A pandemia do coronavirus acelerou o processo de desaparecimento do trabalhador tradicional, servil ao patrão em troca de um salário. Com o isolamento na pandemia muitos trabalhadores foram demitidos e tiveram que se tornar “empreendedor” (entre aspas porque a maioria deles não tinha planos para tal ou não tinham interesse em largar a segurança de um empregos com direitos assegurados por lei) para poder conseguir algum tipo de renda frente a falta de vagas no mercado de trabalho. Há também um outro movimento: dos trabalhadores que tiveram que se adaptar à rotina do trabalho remoto. Este aprenderam novas tecnologias e formas de fazer o trabalho presencial se tornar optativo. Ao serem chamados a voltar ao trabalho presencial com todas suas consequências como abandonar rotinas estabelecidas em sua casa com o trabalho remoto, enfrentar horas de trânsito com perda de tempo fazendo o trajeto de ida e volta ao trabalho, os trabalhadores resolveram buscar outras alternativas no mercado de trabalho. Alguns economistas têm ressaltado que o Brasil encontra-se próximo do pleno emprego em 2022. Ao analisar os números e encontrar a taxa de desemprego abaixo de 9% o próprio presidente do BC ressaltou no “perigo” da alta nos preços pois o Brasil aproxima-se da taxa de pleno emprego…. Me parece que o BC não consegue pensar além dos números e do gráfico IS-LM (utilizado nas Ciências Econômicas para simular impactos de políticas fiscais e monetárias sobre o PIB). Mas o que vem a ser a tal taxa de pleno emprego? Ela deve ser entendida como o emprego dos fatores de produção, trabalho e capital, em sua plenitude em determinado período de tempo. Trocando em miúdos, significa que a economia está aquecida e não há trabalhadores no mercado para assumirem as vagas de emprego disponibilizadas. Em casos dessa magnitude começa surgir um problema considerado sério para o BC: aumento generalizado de preços, a “famigerada” inflação (entre aspas, pois não há consenso se a inflação é de toda ruim para a economia). O processo para aumento de preços é o seguinte: Com o pleno emprego fica difícil encontrar trabalhadores disponíveis no mercado. Então é necessário atrair trabalhadores de outras empresas para assumir a vaga. Este processo causa aumento nos custos de produção pois para contratar o trabalhador que está em outra empresa é preciso pagar salários mais altos, gerando repasse do aumento para os preços. Também há aumento na demanda por bens e serviços devido ao aumento na renda advinda dos ganhos salariais. Se a oferta não acompanhar a demanda, há a chamada inflação de demanda. Voltando à questão inicial sobre o mercado de trabalho: a falta de trabalhador disponível é levantado por meio de pesquisa do IBGE. A metodologia, basicamente, envolve ir ao campo e perguntar para pessoas se elas estão trabalhando ou não. Caso ela esteja trabalhando, mesmo que seja um trabalho informal, tipo bico, ela será classificada como empregada. Só é classificada como desempregada as pessoas que declararem que estão à procura de emprego. A pesquisa não reflete se os empregos são formais ou informais e se há pessoas desalentadas, isto é, deixaram de procurar emprego. O cenário de vagas em aberto é mundial, reflete uma nova concepção de emprego, com mais desafios e melhores rendimentos. O trabalhador atual se depara com novas oportunidades, quer seja na empresa concorrente, no trabalho autônomo ou até mesmo, no trabalho informal. A análise econômica tradicional não consegue captar este novo movimento, com isso, não consegue fazer uma análise que reflita o futuro do trabalho.

quinta-feira, agosto 25, 2022

Acumulação primitiva do capital

Karl Marx define a acumulação primitiva do capital como os recursos advindos principalmente da exploração das américas. As grandes navegações aumentaram o volume de comércio na Europa por meio de compra de especiairias e principalmente com a chegada de ouro levado das Américas. O aumento do volume de riqueza levou a necessidade de aumento da produção de bens e de serviços. A forma de produção existente não dava conta da demanda, elevando os preços locais. Para aumentar a disponibilidade de produtos e serviços foi necessário mudar a forma de produção, passando do modo artesanal para o modo industrial. No modo industrial o trabalho é pago por meio de salários, gerando assim, a extração da mais valia relativa e absoluta. O sistema capitalista é baseado na produção industrial que emprega mão de obra assalariada. O emprego do termo "acumulação primitiva do capital" em contextos diferentes não reflete a concepção dada por Karl Marx. Não se pode dizer que expropriação de terras dentro do sistema capitalista seja percebida como acumulação primitiva do capital uma vez que o sistema capitalista foi concebido a partir da acumulação primitiva.