quarta-feira, fevereiro 16, 2011

A questão da agricultura em Rondônia vis a vis políticas públicas: análise a partir de Bourdieu

Através das leituras em Bourdieu (1998; 2005) e utilizando o conceito de campo, será demonstrada a relação dos agricultores familiares com seu meio, buscando entender a questão da cultura local.
A colonização de Rondônia se acelerou concomitantemente com a construção da Transamazônica, que permitiu a fixação de famílias ao longo da rodovia através de políticas governamentais que incentivavam o povoamento da região. Rondônia possui duas levas de imigrantes distintas, ao sul estão imigrantes oriundos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e, em menor parte, de São Paulo, ao norte estão imigrantes oriundos da Região Nordeste do Brasil. A região Norte de Rondônia foi colonizada por nordestinos devido à incentivos para povoamento da Região, enquanto o Sul teve seu desenvolvimento pautado pela busca por novas oportunidades agrícolas e se desenvolveu posteriormente à colonização do Norte.
Enquanto o Sul de Rondônia possui uma agricultura mais avançada, no Norte predomina a agricultura de subsistência, fato este que caracteriza as discrepâncias entre as culturas de colonização. Enquanto que no Sul os agricultores se organizam e conseguem, dessa forma, pressionar as instituições públicas por melhorias, no Norte ainda não há esta organização, tornando mais difícil seu desenvolvimento. A destinação da produção também é diferenciada, no Sul ela é voltada para o mercado local, nacional e internacional, no Norte ela é voltada para consumo local.
As políticas públicas desenvolvidas no Norte de Rondônia procuram desenvolver uma agricultura sustentável, ou seja, uma agricultura baseada na produção com manutenção do meio ambiente, para isso recorre-se aos sistemas agroflorestais.
Para análise da forma de colonização e principalmente para entender o processo de produção de Rondônia utilizando o conceito de campo, é necessário explicitar aqui como ele é definido segundo Bourdieu (2005). Em termos analíticos, um campo pode ser definido como uma rede ou uma configuração de relações objetivas entre posições (de domínio ou subordinação). Estas posições estão objetivamente definidas, em sua existência e nas determinações que impõem sobre seus ocupantes, agentes ou instituições, por sua situação presente e potencial na estrutura de distribuição de espécies de capital cuja posse comanda o acesso a vantagens específicas que estão em jogo no campo, assim como por sua relação objetiva com outras posições. Nesse contexto pode-se estabelecer características que denotam campos diferentes entre as regiões Norte e Sul de Rondônia, enquanto aquela ainda se mantém em um sistema primitivo de produção, aceitando as determinações de comando vindo de fora, esta se estabelece como uma unidade na qual as decisões são tomadas endogenamente, repercutindo em ações junto às instituições públicas quanto as suas políticas.
Outra característica enfatizada por Bourdieu (2005) na questão do conceito de campo é a de que os participantes de um campo, indústria, comércio ou serviços, buscam constantemente introduzir diferenciação em seus produtos, buscando se estabelecer no mercado com mais força de que seus rivais, ou seja, como espaço de forças potenciais e ativas, o campo é também um campo de lutas que tende a preservar ou transformar a configuração destas forças. As estratégias dos agentes dependem de sua posição no campo, isto é, na distribuição de capital específico e da percepção que tenham do campo segundo o ponto de vista que adotem sobre o campo. Neste sentido, a Região Norte tende a reproduzir uma competição intra-campo que procura manter o status quo existente, sem que esta competição faça diferença no estabelecimento de metas entre os integrantes do campo, cada qual procura produzir o suficiente para si sem se importar com a reprodução ampliada do capital. A Região Sul por outro lado, procura a inserção no mercado capitalista através da participação de seus membros de forma coletiva. A competição existe como forma de fortalecer o grupo, transformando em resultado comum toda as externalidades criadas pelas inovações que venham a ser introduzidas.
Para Bourdieu (2005), o sistema escolar, o Estado, a igreja, os partidos políticos ou os sindicatos são campos. Em um campo, os agentes e as instituições lutam constantemente, de acordo com as regularidades e regras constituídas. Os que dominam um campo dado estão em posição de fazê-lo funcionar para sua conveniência, mas sempre devem enfrentar a resistência e as pretensões dos dominados. As regiões Norte e Sul de Rondônia possuem instituições que promovem políticas similares com resultados diferentes, as demandas são diferenciadas, fazendo com que cada região reaja conforme as forças de poder estabelecidas.
Segundo Bourdieu (2005), as práticas moldam uma economia, isto é, seguem uma razão imanente que não pode restringir à razão econômica, pois a economia das práticas pode ser definida em referência a um amplo espectro de funções e finalidade. Neste sentido, a Região Norte deve ser analisada em diversos aspectos, atentando para as suas características culturais e forças presentes. É necessário buscar através de pesquisas in loco a vocação da Região procurando respeitar o que for encontrado e transformar a realidade através de políticas que se adéquam a um novo panorama, diferente de outras regiões.
A grande questão a ser discutida é como fazer com que os indivíduos componentes dessa Região estabeleçam novas diretrizes para a sua manutenção e crescimento econômico. Como transformar sem que haja uma ruptura, a qual, como já foi tentada por outras políticas públicas, não se mostrou eficaz.


Referências bibliográficas

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

BOURDIEU, P. El propósito de la sociologia reflexiva (Seminário de Chicago) In:
BOURDIEU, P. WACQUANT, L. Uma invitación a la sociologia reflexiva. México; Siglo XXI Ed, 2005.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Jonas,

obrigado pela visita ao blog do "meiacasa". Sem tempo? Talvez eu esteja mesmo é sem inspiração e com dificuldades de concentração.

Abraços.
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