sexta-feira, maio 13, 2011

A utopia na forma de redes

As redes são formas de relacionamento entre entidades que facilitam várias transações e decisões. Muitos estudos colocam a formação de redes como uma nova forma de desenvolvimento econômico em que as entidades envolvidas atuarão de forma efetiva na construção de um novo arcabouço institucional. A formação de redes se tornou a utopia necessária frente ao desmoronamento das teorias comunistas que apregoavam a transformação da sociedade. Será analisado nas leituras de Fleury e Ouverney (2007), Loiola e Moura (1996) e Junqueira (2006) a questão das redes como um novo processo de desenvolvimento econômico baseado na relação governamental com a sociedade civil.

Para Börzel (1997) apud Fleury e Ouverney (2007, p.16)
redes de políticas [...] são um conjunto de relações relativamente estáveis, de natureza não hierárquica e independente, que vinculam uma variedade de atores que compartilham interesses comuns em relação a uma política e que trocam entre si recursos para perseguir esses interesses comuns, admitindo que a cooperação é a melhor maneira de alcançar as metas comuns.

Para Fleury e Ouverney (2007, p.25), “as principais características dessas redes são a horizontalidade e interdependência entre seus múltiplos nódulos ou participantes, o que as distingue de outros formatos de gestão de políticas, como a contratação e as parcerias.” Dessa forma, “o poder de cada membro dentro da rede vai depender da importância de suas funções para ela (ou seja, o controle de recursos), bem como das ligações de cada organização com um universo mais amplo de organizações.” (FLEURY E OUVERNEY 2007, p.27). Na visão de Loiola e Moura (1996, p.56)

Redes de movimento, redes sociais e redes de solidariedade são expressões que se vinculam aos estudos efetuados no campo dos movimentos sociais. Nesse caso, a rede corresponde a articulação/interações entre organizações, grupos e indivíduos vinculados a ações/movimentos reivindicatórios (ONGs, associações, sindicatos, etc), visando à mobilização de recursos, ao intercâmbios de dados e experiências e à formulação de projetos e políticas.

Segundo Fleury e Ouverney (2007, p. 09), “as transformações recentes no papel do Estado em suas relações com a sociedade impõem novos modelos de gestão que comportem a interação de estruturas descentralizadas e modalidades inovadoras de parcerias entre estatais e organizações empresariais ou sociais.” Dentro dessa perspectiva,

as redes têm sido vistas como a solução adequada para administrar políticas e projetos onde os recursos são escassos e os problemas, complexos; onde existem múltiplos atores envolvidos; onde há interação de agentes públicos e privados, centrais e locais, bem como uma crescente demanda por benefícios e participação cidadã. (FLEURY E OUVERNEY 2007, p.10)

Segundo Moura (1997) apud Fleury e Ouverney (2007, p.12), “a abordagem de redes como expressão dos novos arranjos organizacionais que emergem da atualidade indica o esgotamento da capacidade de integração das instituições representativas tradicionais, bem como da eficácia das organizações burocráticas e do modelo de planejamento centralizado.” Dessa forma, conforme Fleury e Ouverney (2007, p. 12),

a formação de estruturas policêntricas que configuram uma nova esfera pública plural resulta de um deslocamento não só do nível central de governo para o local, mas também da esfera do Estado para a sociedade [...] o poder local se torna protagonista da articulação entre organizações governamentais, empresariais e sociais, ampliando a rede de ação pública por meio da inclusão de novos atores políticos.

A participação da população na “formulação e gestão das políticas sociais cria as condições para o desenvolvimento da cidadania e a emancipação dos setores populacionais marginalizados, ao mesmo tempo em que transforma as estruturas autoritárias do Estado, gerando formas de co-gestão pública.” Fleury e Ouverney (2007, p. 34)
Com as transformações econômicas impostas pela política neoliberal,

fica evidente a incapacidade dos governos centrais para dar uma resposta aos problemas sociais, especialmente no contexto atual de redução do papel das burocracias e de escassez de recursos governamentais. A complexidade dos problemas sociais, a diversidade de atores e interesses conflitantes aí envolvidos, a crescente mobilização da sociedade civil para cobrar atenção diferenciada que respeite as diferenças sociais, a organização de um setor não-governamental que atua cada vez mais no campo das políticas sociais, a intensificação da ação social das empresas, tudo isso são fatores que impulsionam e explicam o florescimento de redes de políticas sociais. (FLEURY E OUVERNEY 2007, p.32)

Surge dessa forma, a configuração de um novo processo de transformação social dado que, conforme Fleury e Ouverney (2007, p. 35):

As redes de políticas... constituem-se, pois, num instrumento fundamental para a gerência das políticas sociais em contextos democráticos, permitindo a construção de novas formas de coletivização, socialização, organização solidária e coordenação social. E, nesse sentido, transcendem o papel de mero instrumento gerencial, na medida que ensejam relações baseadas na confiança (capital social) e processos horizontalizados e pluralistas.

Loiola e Moura (1996, p.59) afirmam que com “o crescente recurso à inter(ação) em rede surge como uma estratégia para enfrentar um ambiente de turbulências e incertezas, caracterizado ainda pela forte competitividade e por crises e movimentos de reestruturação, tanto nos estudos da esfera pública como na dos negócios.”
Para Junqueira (2006, p.196), “os impasses vividos pelo setor público levam à busca de novas saídas, e uma das alternativas privilegiadas para enfrentar os problemas sociais que afetam o conjunto da população são as organizações sem fins lucrativos.” Dessa forma ‘p. 200 A transferência do poder de decisão de políticas sociais para usuários dos serviços, desde que sob controle do Estado, constitui um processo em que o Estado,sem abdicar de suas competências, devolve para a sociedade aquilo que lhe é de direito, o que se denomina devolução social (grifo do autor) (JUNQUEIRA, 2006, p.200).
A questão que se insere é sobre como esta nova reorganização da sociedade pode ser efetivada, dado que os interesses inerentes ao mercado são voltados para individualismo, em detrimento da cooperação.

Referências bibliográficas

FLEURY, S. OUVERNEY, A.M. Gestão de Redes: a estratégia de regionalização da política de saúde. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.

LOIOLA, E. MOURA, S. Análise de redes: uma contribuição aos estudos organizacionais. In: FISCHER, T (Org.) Gestão contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1996.

JUNQUEIRA, L. Organizações sem fins lucrativos e redes sociais na gestão das políticas sociais. In: CAVALCANTI, M (Org.) Gestão social, estratégias e parcerias. São Paulo: Saraiva, 2006.

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