quarta-feira, março 10, 2010

Mudanças no processo de produção e alienação

A lógica do processo de produção capitalista se baseia na maximização do lucro, que está diretamente relacionado com a questão salarial, ou seja, salário representa um custo que deve ser mínimo. Para obtenção de um salário mínimo torna-se imprescindível o aumento da oferta da mão-de-obra no mercado, que proporciona um “exército de reserva” para existências das “trocas” entre trabalhadores e capitalistas. Como descrito por Marx (1982), no mercado se encontram: os capitalistas interessados em contratar trabalhadores que proporcionem o maior lucro possível e, os trabalhadores dispostos a trabalhar por um salário justo. Neste encontro fecha-se um acordo no qual vai ser definido o grau de exploração medido através da taxa de mais-valia, obtida pela proporção entre tempo de trabalho necessário e tempo de trabalho extra. Quanto maior a jornada de trabalho, maior será a taxa de mais-valia e consequentemente o lucro . O capitalista também pode aumentar a taxa da mais-valia através do barateamento dos produtos, dado aumento da produtividade, da cesta de bens de manutenção do trabalhador, quanto mais baixo o preço dos bens de consumo dos trabalhadores, menor será o salário necessário a ser pago .
A alienação do trabalhador está diretamente relacionada com a expropriação da mais-valia. No momento em que o trabalhador aceita o contrato de trabalho ele está alienando a sua força de trabalho por determinado período, o qual será dedicado para a produção do trabalho necessário para pagar o seu salário e produzir a mais-valia para o capitalista.
Na revolução industrial a alienação se caracterizava pela extensa jornada de trabalho, de catorze a dezoito horas, pela qual o trabalhador recebia determinado salário. As reivindicações dos trabalhadores nesta época sempre primavam pela redução da jornada de trabalho e aumento salarial.
Com o avanço dos estudos sobre o processo de produção, principalmente desenvolvidos por Fayol, Taylor e Ford, foi possível aumentar a produtividade do trabalhador. Cedendo assim na questão da redução da jornada de trabalho sem grandes prejuízos para a manutenção do lucro .
Na metade do século vinte surgem estudos que visam determinar o comportamento do trabalhador, buscando adequar as ansiedades do trabalhador ao processo produtivo, tornando possível uma nova configuração na qual o trabalhador perde paulatinamente a noção de exploração e alienação e ganha novo direcionamento baseado na motivação. Mesmo assim, até meados dos anos 1970 o trabalhador ainda continuava sendo visto como uma parte do processo produtivo, predominando o gerenciamento no estilo fordista, o qual era caracterizado pela tomada de decisões “de cima para baixo”. O trabalhador apenas precisava produzir conforme lhe era indicado, terminado seu turno, podia voltar para casa sem se preocupar com o trabalho.
Com o advento de novas formas de administrar a produção, empregadas inicialmente no Japão, conhecidas como toyotismo e caracterizadas por uma produção flexível, o trabalhador passou a ser peça chave no novo processo de produção. O sistema de produção agora funcionava baseado na adaptação da produção conforme a demanda, Nesse processo o trabalhador ganha status de “capital humano” e ocupa lugar de destaque nas decisões de produção, agora as decisões são feitas de forma envolver o trabalhador na missão da empresa.
Neste novo padrão de produção, a alienação ganha uma nova forma, sendo estendida além da jornada de trabalho formal, ocupando o trabalhador após expediente através da necessidade de estar planejando novas formas de melhorar o seu desempenho dentro da empresa. Além disso, conforme Motta (1990),
a conquista ideológica dos empregados pela empresa parece basear-se no fato de que ela lhes oferece uma interpretação da realidade que parece coerente com as práticas sociais dos indivíduos. É dessa forma que os jornais da empresa salientam o “sentimento de pertencer” do empregado com relação à empresa, fazendo transparecer uma igualdade ou semelhança dos objetivos individuais com os da organização.
Agora o trabalhador tem que “vestir a camisa” da empresa e se doar por inteiro, pois segundo a lógica praticada pelo capitalismo, ele não é apenas mais um dentro da empresa, ele é a empresa e sua necessidade de lucratividade. Segundo Tragtenberg (2004, p.60),

a organização apropria-se de nosso corpo de tal forma que qualquer ruptura aparece-nos como uma auto-ruptura. É aí que a adesão à organização encontra um de seus fundamentos; o corpo, que adere à organização visualizando a possibilidade de uma ruptura, reage com alta carga de ansiedade. Controladores e controlados, engajados no mesmo processo, participam de uma comunidade de destino: a organização da racionalidade... A organização realiza um processo concomitante: destruição e unificação. O homem dividido na execução de suas tarefas parceladas, isolado no seio da grande metrópole, é reagrupado no interior das imagens organizacionais.

Com o aumento da produtividade há também o aumento no desemprego, embora parte da mão-de-obra seja absorvida em outros setores da economia, há uma parte que fica marginalizada, sem condições de emprego e renda.

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