sexta-feira, março 12, 2010

O conceito e formas de troca em Marx e Weber

Este ensaio começa com a abordagem baseada na Teoria das trocas de Peter Blau, constituída pela aplicação das teorias utilitaristas e da escolha racional. Para Blau (1964) a interação entre indivíduos ou coletividades tem como característica a busca pela maximização das recompensas sejam elas materiais ou não-materiais e redução dos custos. A interação só acontece e se mantém caso seja compensadora para as partes envolvidas. O resultado das trocas sociais são as estruturas sociais. Em relação à troca e poder, Blau (1964) demonstra que quatro recursos podem ser encontrados: dinheiro que serve para intermediar as trocas, aceitação social como forma de pertencimento a um grupo determinado pelas trocas, estima ou respeito que mensura o grau de poder nas trocas e aprovação social. O Poder é visto como causador de desigualdades nas trocas, não permitindo a maximização das recompensas.
Analisando as relações em um ambiente, Blau (1964) demonstra que a recompensa pela associação pode ser intrínseca ou extrínseca, este sendo explicado pelas forças sociais. As trocas sociais e econômicas possuem similaridades, ou seja, tanto na troca social como na troca econômica o indivíduo espera receber algo em troca. As diferenças entre estes dois tipos de troca se dá pelo seu grau de formalidade, uma vez que a troca econômica é feita através de contrato de forma a resultar em benefícios explícitos e a troca social visa benefícios extrínsecos.

II – Proposição
A proposta deste ensaio teórico é buscar em Marx e Weber a concepção das formas de troca. O argumento é feito sobre a hipótese de que as trocas são o princípio das relações entre as pessoas, permeando todas as formas de relações que configuram uma sociedade.

III – Discussão comentários
Para compreender as relações de troca primeiramente será necessário buscar em Weber (1991) o conceito de ação social, o qual é descrito como “ação social (incluindo omissão ou tolerância) orienta-se pelo comportamento de outros, seja este passado, presente ou esperado como futuro.” As trocas se configuram em uma ação social pois envolve o comportamento ativo de uma pessoa em relação à outra, que pode ser de modo racional, referente a valores, afetiva ou tradicional. As trocas de cunho racional se configuram pela articulação de uma estratégia buscando atingir desejado fim com vista a satisfazer determinado desejo. Trocas envolvendo ação referente à valores acontece através de ação consciente, na qual o indivíduo se baseia nos valores arraigados em seu modus vivendi, isto é, parte-se do pressuposto de que o indivíduo irá se basear pela “crença consciente no valor”. Na ação afetiva às trocas estão relacionadas à emoção como orientador do indivíduo. A ação tradicional se baseia nos costumes, sendo que as trocas são efetivadas levando-se em conta os fatores folclóricos que envolvem o indivíduo.

Para Marx a sociedade é composta por “uma imensa coleção de mercadorias”. Para que existam mercadorias é necessário que se processem mudanças no “modus vivendi” do homem, passando assim para uma vida em sociedade permeada por trocas entre o homem e a natureza primeiramente, e depois entre homens através da troca de mercadorias. A vida em sociedade, conforme Weber, é composta por regras e controle que caracterizam o entendimento de dominação e dominados. A sociedade tanto em Marx como em Weber pode ser descrita como um processo dinâmico de trocas nem sempre justas. O sistema capitalista ilustra bem o papel dos atores da sociedade, Marx descreve através da análise das lutas de classe, o comportamento dos agentes econômicos, principalmente das trocas existente entre capitalista e proletário. As trocas para Marx, são feitas para consolidação e manutenção do sistema capitalista, o mercado é composto por trabalhadores dispostos a oferecer a sua força de trabalho por determinado preço e o capitalista, proprietário dos meios de produção, disposto a adquirir esta força de trabalho por um tempo maior do que ele está disposto a pagar. A troca se efetua materializando a expropriação da mais-valia e alienação do trabalhador. Este processo é descrito em Weber como uma ação racional a um objetivo, pois do momento em que o trabalhador aceitou o contrato ele passa a aceitar as regras e controle imposto pelo capitalista, o qual busca realizar o lucro. As escolhas do indivíduo são determinadas pelo valor de troca em Marx, a posse de mercadorias é diretamente proporcional a seu poder de escolha. Se o indivíduo possui apenas a força de trabalho, as suas escolhas ficarão limitadas ao que receber de salário. No caso do indivíduo que possui mercadorias por conta da acumulação primitiva do capital, poderá fazer as escolhas que lhe convém, sendo que a principal delas será a reprodução ampliada do capital, própria para a sua manutenção como capitalista. Para Max Weber, o indivíduo escolhe ser o que é, conforme o grau de conhecimento e pelas oportunidades que a sociedade lhe oferece.
Marx estabelece em seus estudos duas classes principais, trabalhadores e capitalistas, que mantém em funcionamento um sistema econômico caracterizado pelas desigualdades sociais. Weber não vê possibilidade de relação social sem dominação, legitimada pela tradição, carisma ou racional.
Vemos aqui, que as trocas existem para que a dominação racional se sobreponha a qualquer outra forma de dominação, tanto carismática e principalmente a substantiva. Weber descreve a sua preocupação com o caráter racionalista de dominação, que traz como conseqüências a busca por resultados econômicos acima de qualquer coisa. A dominação racionalista toma forma em detrimento das relações em sociedade ditadas pela ética e solidariedade.
Marx mostra que o processo de trocas que sustenta o sistema capitalista produz desigualdades socioeconômicas, para que a exploração da força de trabalho que resulta na constante ampliação do capital, é necessária a existência de um grande exército de reserva, composto de trabalhadores disponíveis no mercado e pronto para oferecer a sua força de trabalho pelo salário proposto pelos capitalistas.
As trocas entre indivíduos são necessárias para a manutenção de uma sociedade. O grande conflito está na forma que estas trocas são feitas. Numa sociedade caracterizada pelo sistema capitalista a desigualdade é conditio sine qua non para a sua perpetuação. A oposição de forças determina a dinâmica e o contexto da vida social. A força dominante composta de um conjunto pessoas pertencentes a grupo ou organizações, detentoras do capital, estabelecem a autoridade legítima forjada pelo exercício do poder. A grande parcela dos indivíduos é dominada para que as trocas sejam feitas dentro das condições oferecidas, determinando o destino de poucas escolhas e perpetuação do sistema.

quarta-feira, março 10, 2010

Mudanças no processo de produção e alienação

A lógica do processo de produção capitalista se baseia na maximização do lucro, que está diretamente relacionado com a questão salarial, ou seja, salário representa um custo que deve ser mínimo. Para obtenção de um salário mínimo torna-se imprescindível o aumento da oferta da mão-de-obra no mercado, que proporciona um “exército de reserva” para existências das “trocas” entre trabalhadores e capitalistas. Como descrito por Marx (1982), no mercado se encontram: os capitalistas interessados em contratar trabalhadores que proporcionem o maior lucro possível e, os trabalhadores dispostos a trabalhar por um salário justo. Neste encontro fecha-se um acordo no qual vai ser definido o grau de exploração medido através da taxa de mais-valia, obtida pela proporção entre tempo de trabalho necessário e tempo de trabalho extra. Quanto maior a jornada de trabalho, maior será a taxa de mais-valia e consequentemente o lucro . O capitalista também pode aumentar a taxa da mais-valia através do barateamento dos produtos, dado aumento da produtividade, da cesta de bens de manutenção do trabalhador, quanto mais baixo o preço dos bens de consumo dos trabalhadores, menor será o salário necessário a ser pago .
A alienação do trabalhador está diretamente relacionada com a expropriação da mais-valia. No momento em que o trabalhador aceita o contrato de trabalho ele está alienando a sua força de trabalho por determinado período, o qual será dedicado para a produção do trabalho necessário para pagar o seu salário e produzir a mais-valia para o capitalista.
Na revolução industrial a alienação se caracterizava pela extensa jornada de trabalho, de catorze a dezoito horas, pela qual o trabalhador recebia determinado salário. As reivindicações dos trabalhadores nesta época sempre primavam pela redução da jornada de trabalho e aumento salarial.
Com o avanço dos estudos sobre o processo de produção, principalmente desenvolvidos por Fayol, Taylor e Ford, foi possível aumentar a produtividade do trabalhador. Cedendo assim na questão da redução da jornada de trabalho sem grandes prejuízos para a manutenção do lucro .
Na metade do século vinte surgem estudos que visam determinar o comportamento do trabalhador, buscando adequar as ansiedades do trabalhador ao processo produtivo, tornando possível uma nova configuração na qual o trabalhador perde paulatinamente a noção de exploração e alienação e ganha novo direcionamento baseado na motivação. Mesmo assim, até meados dos anos 1970 o trabalhador ainda continuava sendo visto como uma parte do processo produtivo, predominando o gerenciamento no estilo fordista, o qual era caracterizado pela tomada de decisões “de cima para baixo”. O trabalhador apenas precisava produzir conforme lhe era indicado, terminado seu turno, podia voltar para casa sem se preocupar com o trabalho.
Com o advento de novas formas de administrar a produção, empregadas inicialmente no Japão, conhecidas como toyotismo e caracterizadas por uma produção flexível, o trabalhador passou a ser peça chave no novo processo de produção. O sistema de produção agora funcionava baseado na adaptação da produção conforme a demanda, Nesse processo o trabalhador ganha status de “capital humano” e ocupa lugar de destaque nas decisões de produção, agora as decisões são feitas de forma envolver o trabalhador na missão da empresa.
Neste novo padrão de produção, a alienação ganha uma nova forma, sendo estendida além da jornada de trabalho formal, ocupando o trabalhador após expediente através da necessidade de estar planejando novas formas de melhorar o seu desempenho dentro da empresa. Além disso, conforme Motta (1990),
a conquista ideológica dos empregados pela empresa parece basear-se no fato de que ela lhes oferece uma interpretação da realidade que parece coerente com as práticas sociais dos indivíduos. É dessa forma que os jornais da empresa salientam o “sentimento de pertencer” do empregado com relação à empresa, fazendo transparecer uma igualdade ou semelhança dos objetivos individuais com os da organização.
Agora o trabalhador tem que “vestir a camisa” da empresa e se doar por inteiro, pois segundo a lógica praticada pelo capitalismo, ele não é apenas mais um dentro da empresa, ele é a empresa e sua necessidade de lucratividade. Segundo Tragtenberg (2004, p.60),

a organização apropria-se de nosso corpo de tal forma que qualquer ruptura aparece-nos como uma auto-ruptura. É aí que a adesão à organização encontra um de seus fundamentos; o corpo, que adere à organização visualizando a possibilidade de uma ruptura, reage com alta carga de ansiedade. Controladores e controlados, engajados no mesmo processo, participam de uma comunidade de destino: a organização da racionalidade... A organização realiza um processo concomitante: destruição e unificação. O homem dividido na execução de suas tarefas parceladas, isolado no seio da grande metrópole, é reagrupado no interior das imagens organizacionais.

Com o aumento da produtividade há também o aumento no desemprego, embora parte da mão-de-obra seja absorvida em outros setores da economia, há uma parte que fica marginalizada, sem condições de emprego e renda.